Palestra proferida para
os coralistas do Coral São Boaventura (Campos dos Goytacazes, RJ), dentro das comemorações pelos seus
20 anos de atividade (2001).
OS BENEFÍCIOS DE SANTIFICAÇÃO DA LITURGIA
Pe. Claudiomar Silva
Souza, USSJMV.
1.ª Parte – O VALOR DOS CANTORES
NA IGREJA
1. Importância da música
A música tem grande influência na alma e no coração. A piedade verdadeira se
expande por si mesma no canto. Nós constatamos que em todos os povos
civilizados o canto ocupou um lugar predominante no culto público.
O mesmo vemos no Antigo Testamento, por exemplo, com o rei
Davi e no Novo Testamento, com o exemplo de Nosso
Senhor, na última ceia.
Os Apóstolos, seguindo o exemplo de Jesus, cultivavam o canto e exortavam os
fiéis a também fazê-lo: “Entoai entre vós salmos, hinos e cânticos
espirituais. Cantai e celebrai de todo coração os louvores do Senhor”. (Ef.
5, 19)
Daí já podemos ver o valor que a Igreja deu à música em todos os tempos:
- Vemos
os monges cantando os louvores divinos nos mosteiros;
- Vemos S.
Ambrósio (séc. IV) cantando o Ofício Divino em
sua Catedral, o que muito edificou S. Agostinho;
- Vemos S.
Gregório Magno (séc. V-VI) fundando as Schola Cantorum para
o aprimoramento e conservação do canto litúrgico.
Assim, nas grandes Basílicas e nas Catedrais da Antigüidade e da Idade Média,
vemos as cerimônias solenizadas pelo canto.
2. A música como parte da
Liturgia – Função clerical
Assim escreve, S. Pio X em seu Motu Proprio sobre a
música sacra (em 22/11/1903): “A música sacra, como parte
integrante da liturgia solene, participa do seu fim geral, que é a glória de
Deus e a santificação e edificação dos fiéis. Ela contribui para aumentar a
beleza e o esplendor das cerimônias”.
E por isso, por seu alto papel, enquanto parte da Liturgia, é que a música
litúrgica foi entregue pela Igreja ao clero. É de tal modo
um ofício clerical, que no rito oriental existe a ordem menor de cantor, e nos
tempos de esplendor, as Schola Cantorum eram formadas por
clérigos, que cantavam oficialmente, desempenhando um verdadeiro ofício
litúrgico.
3. Os corais leigos
Porém, dada a grande extensão da Igreja e a escassez de clero (no mundo atual),
de alguns séculos para cá, foram-se criando corais formados de fiéis, com a
finalidade de compensar a falta dos corais litúrgicos formados somente por
clérigos.
Assim, senhoras e senhores, já podem ver a sua grande missão, o valor do papel
que realizam na Paróquia.
E em uma missão tão sublime traz consigo sublimes exigências. Diz S. Pio X: “Portanto
não se admitam a tomar parte dos corais na igreja a não ser pessoas de
reconhecida piedade e honestidade de vida, as quais, por seu porte modesto e
devoto durante as funções litúrgicas, se mostrem dignos do santo ofício que
desempenham”. (Motu Proprio Tra le solicitudine, de 22/11/1903)
2.ª Parte – A LITURGIA, MEIO DE
SANTIFICAÇÃO
Assim, vemos que os cantores devem ser bons cristãos,
de vida exemplar e piedosa. E ninguém, como as senhoras e os
senhores, têm à mão um meio mais fácil para o crescimento na piedade,
para a própria santificação: esse meio é a grande participação que o
coral tem na liturgia.
A liturgia tem uma dupla finalidade: a primeira, e principal, é a glorificação
de Deus; a segunda, subordinada à primeira, é a santificação dos
fiéis.
E a liturgia desempenha sua obra de santificação de dois modos:
a) enquanto que, por meio do ano litúrgico, nos reproduz a vida de Nosso
Senhor, que é o nosso exemplo de santidade: “Exemplum dedi vobis...” (ver texto JESUS CRISTO EM SEUS MISTÉRIOS anexo abaixo)
b) E, sobretudo, enquanto nos aplica as graças próprias de cada mistério. (ver texto JESUS CRISTO, VIDA DA ALMA anexo abaixo)
E, as senhoras e os senhores, têm a graça de um contato íntimo e repetido com a
liturgia. Daí a importância de buscar conhecer o texto litúrgico e sua
tradução. Esses textos os conduzirão a penetrar no intimo do Mistério ou festa
celebrada, por exemplo, a Missa dos defuntos, o santo Natal, Sexta-feira santa,
etc.
4. CONCLUSÃO
Busquemos aproveitar essa graça tão grande, esse oficio tão sublime, e
aproveitemos ao máximo a liturgia como meio de santificação e união com Deus.
O que é
cantar os louvores de Deus na terra, senão um oficio que, junto com os anjos e
santos, desempenharemos para sempre no Céu?
Bibliografia
1)
BAUMER, Snitbert, OSB. Histoire du breviaire
2) HAUP, Ambrosio. Manual liturgico
3) MARMION, Columba, OSB. Jesus Cristo nos seus mistérios
4) MARMION, Columba, OSB. Jesus Cristo: vida da alma.
2) HAUP, Ambrosio. Manual liturgico
3) MARMION, Columba, OSB. Jesus Cristo nos seus mistérios
4) MARMION, Columba, OSB. Jesus Cristo: vida da alma.
Extraído do antigo site do Coral São Boaventura (de Campos-RJ).
* * *
ANEXOS
OS EXEMPLOS DE NOSSO SENHOR PELA LITURGIA
Jesus cristo em seus Mistérios
Sabeis que é
sobretudo pela Liturgia que a Igreja a alma dos seus filhos, de modo a
torná-los semelhantes a Jesus e realizar assim “aquela cópia de Cristo que é a
forma de nossa predestinação” (Rom. 7,29).
Guiada pelo Espírito
Santo, que é o próprio Espírito de Jesus, a Igreja desenrola todos os anos, aos
olhos de seus filhos, do Natal à Ascensão, o ciclo completo dos mistérios de
Cristo, ora numa forma sumária, ora na sua ordem exatamente cronológica, como
durante a semana santa e tempo pascal. Assim faz reviver, não de qualquer modo,
mas numa representação animada e viva, cada um dos mistérios do seu divino
Esposo; faz-nos percorrer cada uma das fases da Sua vida. Se nos deixarmos
conduzir por ela, infalivelmente chegaremos a conhecer os mistérios de Jesus e
sobretudo penetrar os sentimentos do Seu divino Coração. E porque?
A Igreja, que conhece
o segredo do seu Esposo, destaca do Evangelho as páginas que melhor põem em
relevo cada um dos Seus mistérios; depois, com uma arte perfeita, ilustra-os
com trechos dos Salmos, das Profecias, das Epístolas de S. Paulo e dos outros
Apóstolos, com citações dos antigos Padres. Coloca assim numa luz mais viva,
mais abundante, os ensinamentos do divino Mestre, os pormenores da sua
vida, a medula dos Seus mistérios.
Ao mesmo tempo, pela
escolha das citações dos livros santos e dos autores sagrados, pelas aspirações
que nos sugere, pelo seu simbolismo e seus ritos, desperta em nossas almas a
atitude requerida pelo sentido dos mistérios, faz brotar em nossos corações as
disposições necessárias para que assimilemos ao máximo o fruto espiritual de
cada um deles.
(MARMION, Columba, OSB, in Jesus Cristo nos Seus Mistérios . p. 25-26.
Edições Ora & Labora. Porto, 1958)
Edições Ora & Labora. Porto, 1958)
A CONEXÃO DA LITURGIA E DOS MISTÉRIOS DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO
Jesus Cristo, vida da alma
Os mistérios de
Cristo foram primeiramente vividos por Ele, mas para podermos, também nós,
vive-los em união com Ele. Como? Inspirando-nos no seu espírito,
apropriando-nos a sua virtude, para que, vivendo deles, nos assemelhemos a
Jesus Cristo.
É certo que Jesus
agora vive glorioso no céu; a sua vida terrestre, no seu curso físico e na sua
forma exterior, durou, apenas, trinta e três anos; mas a virtude de cada um
desses mistérios é infinita e permanece inesgotável. Quando os celebramos na
santa Liturgia, recebemos, na medida da nossa fé, as mesmas graças que se
tivéssemos vivido outrora com Nosso Senhor, e assistido a todos os seus
mistérios. O autor desses mistérios foi o Verbo Encarnado. Como vos disse,
Jesus Cristo, pela Encarnação, associou toda a humanidade aos seus mistérios divinos,
e mereceu, para todos os seus irmãos, a graça que lhe aprouver ligar a esses
mistérios. E é na sus celebração pela Igreja, à qual encarregou de continuar a
sua missão neste mundo, que Jesus Cristo, no decorrer dos séculos, comunica às
almas fiéis a participação da graça que esses mistérios enceram. Eles são, como
diz S. Agostinho, o tipo da vida cristão que devemos viver, na qualidade de
discípulos de Jesus.
Por exemplo, o Natal.
– “Adorando o nascimento do nosso Salvador, diz S. Leão, sucede que
e a nossa própria imagem que celebramos. Com efeito, esta geração temporal de
Cristo é a fonte do povo cristão; e o nascimento do chefe é ao mesmo tempo o de
seu corpo místico. Todo homem, em qualquer parte do mundo que habite, acha,
neste mistério, um renascimento em Cristo (Sermão IV In
Nativitate Domini). O Natal traz, cada ano, à alma que celebra com fé este
mistério – pois é pela fé primeiramente, e depois pela comunhão eucarística,
que entramos em contato com os mistérios de Cristo, - uma graça de renovação
interior, que aumenta o grau da sua participação na filiação divina em Jesus
Cristo.
O mesmo se dá com os
outros mistérios. A celebração da Quaresma, da Paixão e da Morte de Jesus
durante a Semana Santa, traz consigo uma graça de“morte para o pecado”,
que nos auxilia a destruir cada vez mais em nós o pecado, o apego ao pecado e à
criatura. Porque, diz explicitamente S. Paulo, Jesus Cristo fez-nos morrer e sepultou-nos
consigo. Si unus mortuus est, ergo omnes mortui sunt... Consepulti
enim sumus cum illo (Rom. 6, 4). Isto em direito e em
princípio para todos; mas a aplicação faz-se no decorrer dos séculos, a cada
alma, pela parte que toma na morte de Cristo, principalmente durante a época em
que a Igreja a recorda.
Do mesmo modo, na
Páscoa, quando cantamos a glória de Cristo saindo do túmulo, vitorioso da
morte, achamos na participação desse mistério, uma graça de vida e de liberdade
espirituais. Deus, disse S. Paulo, ressuscita-nos com Cristo. CONresuscitavit
nos (Ef. 2, 6): e diz ainda, falando da graça peculiar a
esse mistério: Si CONsurrexistis cum Christo, quae sursum sunt
quaerite... non quae super terram – Se ressuscitastes com
Cristo, procurai e saboreai, não as coisas da terra, as quais, sendo criadas,
contêm o gérmen da corrupção e da morte, mas as coisas do alto, que vos
conduzem à vida eterna (Rom. 6, 4) –: UT
QUOMODO CHRISTUS surrexit a mortuis per gloriam Patris ITA ET NOS in novitate
vitae ambulemus – Com Ele fomos sepultados pelo batismo na
morte para que, assim como Cristo ressuscitou dos mortos para a glória do Pai,
assim também andemos em novidade de vida (Rom. 6, 4).
Depois de nos Ter associado
à sua vida de ressuscitado, Jesus Cristo faz-nos participar do mistério da sua
Ascensão. E qual é a graça especial deste mistério? S. Paulo responde-nos: Deus...
CONsedere fecit nos in coelestibus in Chisto Jesu – Deus...
nos ressuscitou com ele e nos sentou nos céus em Cristo Jesus (Ef.
2, 4 e 6). O grande Apóstolo que com todos esses exemplos ilustra
admiravelmente a exposição, que tanto tem a peito, da nossa união com Jesus
Cristo como membros do seu corpo místico, diz-nos, em termos muito explícitos,
que “Deus nos fez sentar com Cristo no reino dos céus”. Por isso,
escrevia um autor antigo: “Enquanto estamos neste mundo,
acompanhemos Jesus ao céu, pela fé e pelo amor, para que O possamos seguir na
realidade, no dia designado pelas promessas eternas (sermão
falsamente atribuído a S. Agostinho, mas, evidentemente, com sua inspiração. É
lido no Breviário, no 2.º Noturno da Oitava da Ascensão). Não é, na
verdade, o que a Igreja nos incita a pedir na Oração da festa da
Ascensão? Ut qui Redeptorem nostrum in coelos ascendisse credimus,
ipsi quoque mente in coelestibus habitemus – Assim como cremos que o
vosso Unigênito, nosso Redentor, subiu ao céu neste dia, assim também nós em
espírito habitemos no céu.
Assim, ano a ano, a
Igreja faz passar diante dos nossos olhos a representação dos acontecimentos
que marcaram a vida terrestre do seu Esposo. Faz-nos, primeiramente, contemplar
esses mistérios; e, cada ano, é uma nova luz que nos ilumina; descobre-nos os
sentimentos do Coração de Cristo, e, cada ano, penetramos mais nas disposições
interiores de Jesus; faz reviver em nós estes mistérios do nosso Divino chefe;
apoia as nossas súplicas, para que obtenhamos a graça especial, própria de cada
um desses mistérios vividos por Cristo; e assim adiantamos, pela fé e pelo
amor, pela imitação do nosso modelo divino, posto incessantemente sob os nossos
olhares, naquela transformação sobrenatural que é o termo da nossa união com
Jesus: Vivo ego, jam non ego, vivit vero in me Christus - Eu
vivo, mas já não sou eu, é Cristo que vive em mim(Gal. 2, 20). Não é
isto a santidade real e a verdadeira forma da nossa predestinação divina – ser
semelhantes ao Filho muito amado, que a sua vida se torne a nossa?
(MARMION, Columba, OSB, in Jesus Cristo, vida da alma. p.
405-408.
Edições Ora & Labora. Porto, 1961)
Edições Ora & Labora. Porto, 1961)
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